quarta-feira, 1 de julho de 2009

Contexto local

por Leila Soraya Menezes*


O município de Marechal de Thaumaturgo localiza-se no ponto mais ocidental do Brasil, em faixa de fronteira com o Peru, na região do Vale do Juruá, Estado do Acre. O município possui uma área total de 793.412 hectares e uma população estimada em 8.586 habitantes.

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Cerca de 65% do território de Thaumaturgo foi convertido na Reserva Extrativista do Alto Juruá, na qual habitam 50% da população total do município. 20% da área do município é composto pelas terras indígenas Ashaninka do Rio Amônia, Kaxinawá Ashaninka do Rio Breu e Jaminawa Arara do Rio Bagé, e, juntas, estas três terras reúnem 10% da população total de Thaumaturgo. Mais de 40 mil hectares do Parque Nacional da Serra do Divisor ocupam cerca de 5% das terras do município. E existem, ainda, 26 mil hectares arrecadados pelo Incra nos quais foi instalado o Projeto de Assentamento de Reforma Agrária do Rio Amônia, que assentou cerca de 15% da população do município de Thaumaturgo.

Imagem por Satélite Vista aérea do Município de Marechal Thaumaturgo, nascido onde o rio Amônia faz sua foz, no cotovelo do rio Juruá

Thaumaturgo é, assim, um município com cerca de 80% da população vivendo na área rural e com quase 90% do território formado por um mosaico continuo de áreas protegidas, áreas de grande diversidade biológica e cultural, áreas que são protegidas por políticas públicas de conservação ambiental, preservação da biodiversidade local e reconhecimento dos direitos dos povos da floresta à terra, à proteção de sua cultura e de seu modo de vida.

Thaumaturgo conquistou com luta, com resistência e com o modo de vida sociodiverso de suas populações tradicionais o fato de ser um Município da Floresta.

Foto Leila Soraya MenezesO rio Juruá, de subida

Em sua história, o Município também conquistou muitos amigos, parceiros, aliados da floresta e das populações locais, e que puderam pesquisar e sistematizar muito conhecimento produzido pelas populações que habitam as florestas de Thaumaturgo.


Desde antes de sua criação, em 1992, até os dias de hoje, o Município de Marechal Thaumaturgo, no Estado do Acre, tem podido contar com produções de conhecimento a respeito de sua população, da imensa diversidade biológica de seu território, bem como a respeito da imensa diversidade cultural que também o compõe.

Estes saberes acumulados desenharam o atual contorno e organização do município em um território composto por três terras indígenas e duas outras em estudo, a primeira e uma das maiores reservas extrativistas do Brasil, a Reserva Extrativista do Alto Juruá, a presença de parte do Parque Nacional da Serra do Divisor e, ainda, um projeto de colonização e reforma agrária.

Foto Leila Soraya Menezes Rio Bagé, Cacique Antônio Jaminawa

Assim, nos marcos territoriais e de organização política do município, têm sido gerados conhecimentos socioambientais por vários atores sociais, organizações governamentais e não governamentais, locais, regionais e nacionais:

- saberes acumulados pelas lutas e conquistas locais (que levaram ao reconhecimento dos direitos de proteção e conservação da bio e sociodiversidade e à demarcação das áreas protegidas: Reserva Extrativista, Parque Nacional, Terra Indígena e Projeto de Assentamento de Reforma Agrária)

- saberes acumulados pela diversidade cultural local (índios, seringueiros, ribeirinhos, trabalhadores rurais e a população local em geral, com seu conhecimento tradicional acumulado por seu modo de vida tradicional)

Foto Leila Soraya Menezes O rio Bagé

- saberes acumulados pela produção de conhecimento convencional (pesquisas acadêmicas, dissertações de mestrado, teses de doutorado e monografias de especialização sobre a política, a cultura, a história, o desenvolvimento institucional, a população e os recursos ambientais locais em geral)

- saberes acumulados pela produção de conhecimento gerado por organizações não governamentais (etnomapeamentos, diagnósticos socioambientais e ampliação de capacidades locais em agrofloresta, educação, saúde, gestão e gerência institucionais)

- saberes acumulados pela produção de conhecimento gerado por organizações governamentais (censos, pesquisas de monitoramento de produção e de proteção ambiental, cadastros de populações tradicionais e de seu modo de vida, planos de manejo e planos de uso das áreas protegidas locais etc.)

Foto Leila Soraya Menezes Foz do rio Amônia no rio Juruá, porto de Thaumaturgo

A Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Marechal Thaumaturgo, tanto na gestão de Benki Piyãko Ashaninka (2005-2007) quanto na gestão do atual Secretário de Meio Ambiente, Isaac Pinhanta Ashaninka (2009-), se determinou que a implementação de suas ações parta desses conhecimentos já acumulados, particularmente os acumulados pelas próprias comunidades rurais e urbanas do Município de Marechal Thaumaturgo.

O Secretário Isaac Pinhanta Ashaninka, à frente da Secretaria de Meio Ambiente e Turismo de Thaumaturgo, entende que as conquistas do Município, hoje, impõem o desafio de sua gestão. E a gestão que procura é a gestão que dê sustentabilidade às conquistas, à floresta e aos recursos naturais da terra. Uma gestão sustentável, que conte com a participação das comunidades que compõem o município e parta dos conhecimentos, tradicionais e acadêmicos, gerados e acumulados nos últimos anos por moradores e amigos.

* Leila Soraya Menezes, formada em Psicologia com especialização em Resolução de Conflitos Socioambientais, é autora da monografia "Desenvolvimento Sustentável em municípios com áreas protegidas: o caso de Marechal Thaumaturgo, Acre" (UnB/CDS, 2003)